domingo, 20 de novembro de 2011

O Buscador

 

Um conto de Jorge Bucay contado por ele mesmo. 

Esta é a história de um homem que eu definiria como buscador...
Um buscador é alguém que busca, não necessariamente é alguém que encontra.
Tampouco é alguém que, necessariamente, sabe o que é que está buscando, é simplesmente para quem sua vida é uma busca.
Um dia, o buscador sentiu que devia ir à cidade de Kammir. Ele aprendeu a dar importância para estas sensações que vinham de um lugar desconhecido de si mesmo, assim deixou tudo e partiu.
Depois de dois dias de caminhada por caminhos poeirentos, ao longe avistou, Kammir. 
Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina à direita do caminho chamou muito a atenção. Estava coberta por um verde maravilhoso e havia uma porção de árvores, pássaros e flores encantadoras; rodeada por completo por uma espécie de vala pequena de madeira lustrada.
Uma portinhola de bronze o convidava a entrar. Logo, sentiu que esquecera o povoado e sucumbiu à tentação de descansar por um momento naquele lugar. O buscador traspassou o portal e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam distribuídas como por acaso, entre as árvores.
Deixou que seus olhos pousassem como borboletas em cada detalhe deste paraíso colorido. Seus olhos eram os de um buscador, e talvez por isso, descobriu, sobre uma das pedras, aquela inscrição:
Abedul Tareg, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias.
Surpreendeu-se um pouco ao perceber que essa pedra não era simplesmente uma pedra, era uma lápide. Sentiu pena ao pensar que uma criança de idade tão curta estava enterrada naquele lugar. Olhando a seu redor, o homem percebeu que a pedra ao lado também tinha uma inscrição. Aproximou-se para  lê-la, dizia:
Yamir Kalib, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas.
O buscador sentiu-se terrivelmente comovido. Aquele belo lugar era um cemitério e cada pedra, uma tumba. Uma por uma, começou a ler as lápides. Todas tinham inscrições similares: um nome e o tempo de vida exato do morto. Mas o que conectou com o espanto foi comprovar que o que viveu mais tempo mal passara dos 11 anos... Embargado por uma dor terrível sentou-se e começou a chorar.
O zelador do cemitério passava por ali e aproximou-se. O viu chorar por um tempo em silêncio e depois perguntou se ele chorava por algum familiar.
Não, nenhum familiar, disse o buscador.
O que acontece com este povoado, que coisa tão terrível há nesta cidade?  Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Qual é a horrível  maldição que pesa sobre esta gente que a obrigou a construir um cemitério de crianças?
O ancião sorriu e disse:
O senhor pode acalmar-se. Não há tal maldição. Acontece que aqui tínhamos um velho costume. Vou lhe contar. Quando um jovem cumpre quinze anos seus pais lhe presenteiam com uma caderneta, como esta que tenho aqui, pendurada no pescoço. E é tradição entre nós que a partir dali, cada vez que desfrutamos intensamente de algo, abrimos a caderneta e anotamos nela:
À esquerda, o que foi desfrutado. 
À direita, quanto tempo durou o gozo.
Conheceu a sua namorada e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa paixão enorme e o prazer de conhecê-la? Uma semana? Duas? Três semanas e meia?...
E depois... a emoção do primeiro beijo, o prazer maravilhoso do primeiro beijo, quanto durou? Um minuto e meio de beijo? Dois dias? Uma semana?...
E a gravidez ou nascimento do primeiro filho...?
E o casamento dos amigos? E a viagem mais desejada?
E o encontro com o irmão que voltou de um país distante?
Quanto tempo durou o desfrutar dessas situações. Horas? Dias?
Assim vamos anotando na caderneta cada momento que desfrutamos... cada momento.
Quando alguém morre, é nosso costume, abrir sua caderneta e somar o tempo de desfrute, para escrever em sua tumba, porque esse é para nós, o único e verdadeiro tempo vivido.

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