Nos dias em que vivemos, a aparência vale muito mais do que a essência. As pessoas estão muito mais preocupadas em ter, do que ser. Para muitos felicidade se encontra em bens e poder, ser feliz é ter tudo o que desejam, para que todos vejam suas conquistas e então os aceitem, não pelo que são mas, pelo que tem.
Quantas vezes você já parou para pensar nisso? Já pensou no ser humano egoísta que você está se tornando? Já se deu conta do quanto você tem se anulado por se tornar um escravo do ter? Já percebeu como manipula ou é manipulado perdendo sua autencidade só para aceitar ou ser aceito? Talvez você ainda não se deu conta do quanto tudo isso é assustador, mas todos os dias somos incentivados a ser alguém que nunca pensamos em ser e a ter coisas que na realidade nem precisamos.
O desejo desenfreado de ter para manter a aparência do "ser" está acabando com as pessoas. Ou você acha que não? Dá uma voltinha nos corredores dos hospitais e nas salas de espera dos analistas e tire suas próprias conclusões... Eu já tenho a minha!
Conversando como Maria descobri que ela tem depressão, há alguns anos quando começou os sintomas, ela estava desempregada e fica mal, sempre que saia para dá uma volta, queria uma sandália, um celular, um perfume e... Estava desempregada!! Entrou em depressão porque queria as coisas e não tinha condições de comprar. Uma amiga minha fofa e querida abriu uma loja e deu uma chance pra Maria. Pronto estava feliz da vida!! Não, não estava! Isso mesmo! Maria não estava feliz, porque o salário era pouco e não daria para comprar tudo o que ela precisava, uma vez que ela ficou quase um ano desempregada, então tinha muita coisa para comprar, e a depressão continuou. A amiga muito preocupada, pagava o tratamento e continuava ajudando, dando aquela força. Alguns meses se passaram e Maria parecia estar melhor, até que um dia o seu mundinho desabou sobre a sua cabeça. Ela devia muito, muito, muito e muito. Devia o limite dos dois bancos que tinha conta, devia para metade das lojas da região que comprava no crediario, devia os três cartões de crédito e devia para todo mundo que conecia e que vendia alguma coisa, tipo Avon, Natura, Hermes, Abelha Rainha, salgadeiro, doceira... E a depressão veio com mais força, Maria teve que ser internada. Quando a familia de Maria começou a arrumar as suas roupas e pertences descobriu que ela tinha produtos embalados. etiquetados e nunca usados guardados. Ela também tinha roupa que nunca vestiria, porque não eram do tamanho que ela usava, tinha sapatos, bota, sandalias e outras coisitas mais que também não lhe serviam, mas ela tinha comprado tudo aquilo. Hoje Maria ainda faz tratamento e evita até de sair sozinha, porque sente uma necessidade enorme de comprar. E segundo ela mesma disse, o dia pode estar ótimo, se ela encontra com alguém que tem alguma coisa diferente ou que ela não tenha, o dia dela acaba e ela deseja morrer, porque não pode ter o que o outro tem.
Absurdo!?! Loucura?! É, eu realmente não sei, mas uma coisa eu tenho certeza, existe muitas Marias espalhadas por aí, algumas ainda em fase de crescimento, outras já em estágio mais avançado. São Marias que trocam de celular toda vez que sai um modelo novo, mais moderno, que mudam o corte e a cor do cabelo com a mesma frequencia que trocam de escova dental, que só usam tênis e roupas das marcas e modelos que os amigos consideram "boas" e de "gente importante"; são Marias que vão se perdendo a cada nova "conquista". Marias que estão tão aprisionadas por ter que não conseguem pensar nem avaliar se precisam ou não de tudo o que compram ou desejam comprar.
Já ia me esquecendo dos amigos de Maria, eles simplesmente sumiram. Todos, um por um foram se afastando porque Maria era desequilibrada. Porém enquanto ela lhes dava presentes, pouco importava se ela era consumista ou não, se gastava mais do que recebia. Penso que eles nem sabiam quem era realmente Maria. Maria que queria ser medica quando criança, Maria que estudou sozinha para prestar vestibular em uma faculdade publica porque não tinha dinheiro para pagar cursinho, Maria que foi discriminada na faculdade porque era pobre e fazia medicina, Maria que conseguiu fazer o sonho se tornar realidade até o dia em que se esqueceu do real significado de felicidade, Maria que se perdeu, Maria que perdeu a essência de ser Maria para ser aceita por aqueles que não se importavam com essa essência.
Em meio a tantas ofertas e tanta gente bonita na foto - é só na foto, ainda busco desesperadamente contribuir para que a valorização das coisas e a desvalorização do homem diminua e que o preço da felicidade deixe de ser tão alto e volte a ser do tamanho do nosso sonho, que nossos amigos nos amem e nos aceitem pelo que somos e não pelo que temos, que nossos filhos valorizem mais nossa companhia do que nossos presentes e o valor da mesada, que o amor venha acompanhado de companherismo e cumplicidade e não de interesse pelo que temos e podemos oferecer.
Que eu seja sempre eu, com muito ou com pouco e que eu ame, aceite, faça amigos independente de ter ou não ter. Que a vida seja mais ser e que a gente seja feliz assim!
Lili's Andrade